14/03/2016

Espetadas de tamboril e presunto



Cozinhar e fotografar e editar e escrever com uma bebé de dias em casa é uma tarefa praticamente impossível. Ou faço uma coisa de cada vez - e sou capaz de demorar dois a três dias até terminar um único post - ou não faço de todo.

As pessoas deviam falar mais sobre o outro lado da maternidade. Os blogues, as revistas, os livros que lemos concentram invariavelmente o foco nas coisas boas (no lado afectivo, nas roupas de catálogo, nas fotografias mimosas, no supremo amor que é termos um filho) e "esquecem-se" de nos preparar para o caos em que a vida se transforma em menos de nada, nas noites que nunca são retemperadoras, no choro incontrolável, na recuperação do pós-parto, na depressão mais ou menos forte que nos bate à porta, na constante vigia da cria que quase nos sufoca e nos elimina enquanto pessoas com vida própria e activa.

Aos olhos da sociedade, eu deixei de ser a Ana para ser "a mãe da Camila". Como se esse fosse o único lugar e papel que me está reservado...
É um rótulo demasiado arcaico e machista para o meu gosto. O pai continua a ser o João, a quem perguntam pela Camila. Eu sou apenas a mãe, que só se deve dedicar à cria, que não pode ousar sair de casa porque o pequeno mamífero precisa sempre de mim. Não posso ter necessidades, nem verbalizar em voz alta o quanto preciso de apanhar sol, de caminhar, de sair destas quatro paredes. Quanto mais escrevê-lo num blogue que é lido por centenas, milhares de pessoas. Não me interpretem mal. Eu não conheço nenhuma mãe ou pai que prefira a vida antes de ter um filho. É melhor e mais completa agora, aliás, desde aquele primeiro minuto. Mas que se devia falar mais sobre isto, devia - mesmo que as pessoas não estejam preparadas para o ouvir e por mais que as palavras sejam insuficientes.



INGREDIENTES
[4 espetadas]
Receita adaptada de Jamie Oliver

12 cubos de tamboril
12 cubos de miolo de pão alentejano (ou ciabatta)
4 hastes de alecrim fresco, com 20-25 cm (ou 4 paus de espetada)
1 dente de alho
Azeite q.b.
Sal e pimenta preta moída na altura q.b.
4 fatias de presunto extra finas
1 a 2 colheres de sopa de vinagre balsâmico (opcional)

PREPARAÇÃO
  1. Pré-aquecemos o forno a 200º C. 
  2. Cortamos o tamboril e o pão em cubos similares (2,5 cm) e colocamos numa taça.
  3. Corremos o dedo polegar e o indicador ao longo dos pauzinhos de alecrim e removemos as folhas deixando os últimos 5 cms de uma das pontas. 
  4. Deitamos as folhas de alecrim num almofariz, acrescentamos o alho e umas 6-8 colheres de sopa de azeite e esmagamos bem. Deitamos a mistura na taça do peixe e do pão e envolvemos cuidadosamente até que os ingredientes se fundam.
  5. Começamos a fazer as espetadas: cortamos a ponta que não tem as folhas na diagonal para que fique afiada. Colocamos um pedaço de tamboril, depois um de pão, e repetimos até termos três pedaços de tamboril e de pão em cada haste. Temperamos com sal e pimenta e envolvemos uma fatia de presunto por cada espetada.
  6. Assim que terminarmos o processo, dispomos as espetadas num tabuleiro de forno, regamos com um fio de azeite (pouco) e assamos por 15-20 minutos, até o pão estar dourado.
  7. Perfumamos com vinagre balsâmico e servimos com uma salada verde (a rúcula combina na perfeição).

O Sweet Bigas também está no

7 comentários

  1. Óptima receita, mesmo ao meu gosto. Vou experimentar!
    Força para esta nova fase de vida :)

    ResponderEliminar
  2. Olá Ana. Todas as mulheres que são mães com certeza que a compreendem. Mais de que o trabalho e o cansaço é também a nossa identidade como mulheres e como profissionais que é posta em causa. Não no sentido negativo, mas no sentido em nós próprias temos de forma abrupta (9 meses não chegam, definitivamente...) encontrar uma nova identidade social: a de mãe e que parece de um momento para o outro usurpar todas as outras. Na realidade é algo que para nós acontece de um momento para o outro, mas que deve ser encarado como um processo, o de tornar-se mãe. E é por isso que temos que nos dar tempo a nós próprias e pensar que temos de aproveitar ao máximo o que nos está a acontecer (ser mãe, com tudo de bom e de mau) e deixar-mos de ser tão exigentes connosco próprias durante um período de tempo, para que possamos acomodar mais este papel social (os outros como bem disse, num post anterior, seguem dentro de momentos...). Como mãe de uma menina de 13 anos, só lhe posso dizer da minha experiência que nós esquecemos os momentos menos bons muito rapidamente (ou então eu estou a ficar senil...) e só nos lembrámos do bom.
    Quanto ao seu blog e às suas receitas elas são fantásticas assim como a qualidade das fotos que nos deixam a salivar, mas não se preocupe porque temos tudo guardado e vai dar para fazer experiências por um bom tempo, porque tal como a Ana também somos mães, trabalhadoras e apesar de querermos muito não conseguimos acompanhar o seu ritmo de posts maravilhosos, por isso dê-nos um bocadinho de tempo também.
    Muitas felicidades Ana e que a sua memória seja tão selectiva como a minha! Um abraço!

    ResponderEliminar
  3. Olá Ana. Todas as mulheres que são mães com certeza que a compreendem. Mais de que o trabalho e o cansaço é também a nossa identidade como mulheres e como profissionais que é posta em causa. Não no sentido negativo, mas no sentido em nós próprias temos de forma abrupta (9 meses não chegam, definitivamente...) encontrar uma nova identidade social: a de mãe e que parece de um momento para o outro usurpar todas as outras. Na realidade é algo que para nós acontece de um momento para o outro, mas que deve ser encarado como um processo, o de tornar-se mãe. E é por isso que temos que nos dar tempo a nós próprias e pensar que temos de aproveitar ao máximo o que nos está a acontecer (ser mãe, com tudo de bom e de mau) e deixar-mos de ser tão exigentes connosco próprias durante um período de tempo, para que possamos acomodar mais este papel social (os outros como bem disse, num post anterior, seguem dentro de momentos...). Como mãe de uma menina de 13 anos, só lhe posso dizer da minha experiência que nós esquecemos os momentos menos bons muito rapidamente (ou então eu estou a ficar senil...) e só nos lembrámos do bom.
    Quanto ao seu blog e às suas receitas elas são fantásticas assim como a qualidade das fotos que nos deixam a salivar, mas não se preocupe porque temos tudo guardado e vai dar para fazer experiências por um bom tempo, porque tal como a Ana também somos mães, trabalhadoras e apesar de querermos muito não conseguimos acompanhar o seu ritmo de posts maravilhosos, por isso dê-nos um bocadinho de tempo também.
    Muitas felicidades Ana e que a sua memória seja tão selectiva como a minha! Um abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, Cristina, pelas palavras tão generosas.
      É precisamente isso que sinto: moldar-me ao novo papel e conciliar todos os outros é uma tarefa árdua que, sinceramente, ainda não fui capaz de assimilar. Mas com o tempo tudo vai ao sítio e vou torcer para que a memória selectiva me escolha também. :)
      Muitos beijinhos e boas receitas! ✨

      Eliminar
  4. Cara Ana concordo plenamente! A maternidade é uma experiência de encher o coração, mas ao mesmo tempo avassaladora! Penso que haveria menos depressões pós parto se as pessoas, especialmente as mulheres, falassem verdade! As fotografias são lindas mas o antes e o depois são bem cansativos! Todas as felicidades para a Ana e para a bebé Camila! Beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Olá, Margarida

    Que bom vê-la por aqui :) É verdade, é uma experiência avassaladora para a qual ninguém nos prepara devidamente. Com o tempo as coisas melhoram e começam a entrar no ritmo, mas até lá é bem custoso.
    A vida inverte-nos as prioridades demasiado rápido e o corpo fica inerte. No meu caso, saber lidar com isso demorou várias semanas - precisamente porque é uma aprendizagem, não é instantâneo.
    Acho inclusive incrível que os cursos de preparação para o parto tenham um módulo sobre o pós-parto e a chegada a casa e que a depressão seja vista uma questão menor e sempre transitória. Enfim.

    Um beijinho para si e para a Maria Miguel

    ResponderEliminar

© SWEET BIGAS. All rights reserved.