Açorda de bacalhau fresco [receita biológica]

Há dias, fomos jantar a casa de uns primos que brincam com o facto das minhas receitas serem sempre (ou quase sempre saudáveis). Na ementa havia natas à mistura, mas o Daniel garantiu que eram integrais (ah, ah!) e de soja e magras.

A verdade é que da última vez que eles jantaram cá em casa eu fiz-lhes uma pizza integral de fiambre de peru com mozzarella fresca e manjericão. É a minha preferida e, não querendo evangelizar ninguém, tinha a certeza que os convencia que a comida saudável pode ser tão (ou mais) saborosa que a tradicional. Aquela pizza de ingredientes frescos, cuja massa eu fiz e estendi é infinitamente melhor que a do supermercado e, mais importante que isso, não é nociva para a saúde. Espero que o Daniel (ou a Sara) venha aqui à caixa de comentários afirmar a veracidade deste episódio :)

Ainda assim, eu não sou fundamentalista. Dietas altamente restritivas ou modas não me levam. Consumirmos leite de soja ou de amêndoa ou de arroz só porque não tem lactose (e nós até nem somos intolerantes) é um erro. Primeiro, porque a quantidade de gorduras é muito superior ao leite tradicional e, depois, porque a alimentação é um assunto sério, não é uma tendência de Instagram. Metade das causas de doença e morte têm relação directa com a alimentação.

Eu fico contente por o governo criar um imposto especial para bebidas açucaradas, assim como fiquei quando aumentou o preço do tabaco. Um relatório da OMS, divulgado na semana passada, concluiu que medidas destas reduzem os índices de obesidade, diabetes de tipo 2 e cáries. E fazer o inverso, isto é, reduzir os preços dos vegetais e frutas, também seria louvável. Lá chegaremos.

O que é mesmo importante é fazermos escolhas saudáveis. Que essa seja a regra e não a excepção. E isso significa variar. Se possível, optarmos por alimentos biológicos ou, pelo menos, provenientes de agricultura sustentável. São os que nos garantem melhor sabor e nutrição, como a certeza de que o ciclo de vida daquela fruta ou legume ou animal foi respeitado e o ambiente protegido; são os que não são contaminados com químicos e hormonas de crescimento. E isso é muito diferente de banirmos o glúten, a lactose ou todo o tipo de açúcares da nossa vida. Ou de fazermos ovos mexidos só com claras, porque a gema tem gordura. Fanatismos nunca são bons companheiros.

Para esta açorda, escolhi pão de centeio, mas podem fazê-la com pão de mistura ou rústico.

Os ovos é que devem ser biológicos. O sabor é incomparável, a cor da gema (mais clara, sem corantes) também, mas nem que fosse para manifestar repúdio pelo método de criação tortura artificial a que estão sujeitas as galinhas poedeiras já valeria a pena.

 

 

INGREDIENTES
[2 pessoas]

2 lombos de bacalhau fresco
1 fio de azeite Oliveira da Serra bio q.b.
1 dente de alho grande biológico, laminado
1 pão de centeio grande (com 1 ou 2 dias)
1 molho de coentros frescos biológico
1 ovo biológico (só a gema)
Sal e pimenta preta moída na altura q.b.

PREPARAÇÃO

1. Cozemos o bacalhau em água fervente (sem sal). Retiramos as postas e reservamos a água.
2. Abrimos o pão e removemos o miolo, desfazendo-o em pequenos pedaços com as pontas dos dedos.
3. Num tacho largo com um fio de azeite douramos o alho juntamente com duas hastes de coentros. Acrescentamos o miolo do pão e, sem parar de mexer, vamos vertendo pequenas quantidades da água de cozedura do bacalhau até obtermos a consistência desejada. Provamos e temperamos com um pouco de sal, se necessário.
4. Adicionamos agora o bacalhau, já desfeito em lascas, e os coentros picados grosseiramente. Envolvemos novamente.
5. Abrimos uma pequena cavidade no centro e colocamos delicadamente a gema do ovo. Temperamos com pimenta preta e servimos.

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