17/03/2020

QUARENTENA: O QUE DEVO COMPRAR?

Nos longínquos anos 90, lembro-me de imaginar (desejar) o teletransporte, carros que voavam, um robot doméstico que me ilibava de tudo o que, na altura (e agora!), me maçava. Mas não. Pelo contrário. Ainda andamos a ensinar as pessoas a lavar as mãos.

O que eu nunca imaginei foi isto: um verdadeiro cenário de filme pós-apocalíptico adaptado à realidade. As maiores cidades da Ásia estão desertas, vêem-se corridas desenfreadas aos supermercados para, depois, se confinarem as pessoas a quatro paredes e os pivots de televisão alertar-nos para o perigo que já é perfeitamente palpável. 
A cada dia as restrições aumentam e o drama coletivo também.


Somos os primeiros humanos a viver uma pandemia na era da informação.


Em alturas de crise, é normal que o nosso instinto de sobrevivência fale mais alto, que o medo se sobreponha à razão, que o nosso pânico do escuro e dos fantasmas assuma contornos que nós nem sabíamos existir.

Posso falar-vos por mim: nunca fiz compras em quantidade. Gosto de ir à mercearia do bairro várias vezes por semana e, cá em casa, nem sequer temos refeições congeladas, sejam compradas ou caseiras. Também nunca fiz um planeamento de refeições: gosto de abrir o frigorífico e fazer o que me (nos) apetece.

No passado sábado, apesar de já ter feito compras online a pensar nos próximos dias, passei por um supermercado pequeno, vazio, e não resisti. Entrei. Reabasteci-me de cereais, fruta fresca e legumes. Como sabem, não como carne há quase dois anos, pelo que, para mim, é fundamental ter essa gaveta do frigorífico com variedade. Mas não só para mim. Abundância sempre foi sinónimo de conforto.


Assim, no que à alimentação diz respeito, tendo em conta a incógnita que é o futuro (que é o próprio dia de hoje!), importam, acima de tudo, duas coisas:

1) alimentarmo-nos de forma equilibrada;
2) usar com consciência e moderação os alimentos que temos em casa.

Se a carne faz parte do seu dia-a-dia, talvez seja uma boa altura para moderar o consumo. Verá que um prato de feijão, arroz e espinafres congelados em alternativa à proteína animal é igualmente saciante.

Feijão enlatado ou em frasco de todos os tipos, grão-de-bico, favas, ervilhas, lentilhas verdes e vermelhas são excelentes fontes de proteína vegetal.
Latas de salsichas com arroz matam a fome, mas não trazem o aporte vitamínico que o nosso organismo precisa. 

Nesta altura, é especialmente importante reforçar o sistema imunitário. Sendo que não cura o vírus,  uma boa alimentação torna-nos mais saudáveis e resistentes a esta ou outras patologias.

Compre e cozinhe em consciência.

Não faça compras por impulso ou como reação à ansiedade. Não queremos isto:



Aqui fica uma lista rica e variada, elaborada em conjunto com a nutricionista Catarina Trindade, para usar da próxima vez que for ao supermercado.


LISTA DE COMPRAS – ESSENCIAIS PARA A QUARENTENA


FRESCOS

Frutas:
Maçãs e pêras (porque se aguentam bem)
Laranjas, tangerinas, kiwis e limão (boas fontes de vitamina C)
Frutos vermelhos (frescos ou congelados – pelas suas propriedades antioxidantes)
Bananas (é um alimento de curta durabilidade, pelo que pode optar por comer nos primeiros dias. Quando estiverem menos próprias para consumo, ponha as mãos na massa e faça um pão de banana!)

Legumes:
Cenouras, beterraba, abóbora (vitamina C), couve lombarda, alho-francês, brócolos, beringela, nabos (todos têm grande durabilidade)
Alho e cebolas
Saladas ou legumes embalados (como espinafres, rúcula, couve portuguesa)

Carne e peixe (se comprar em quantidade, congele em porções avulsas que a sua família consome habitualmente)

SECOS
Azeite
Polpa de tomate ou tomate enlatado
Sal
Bolachas (em caso de emergência)
Açúcar amarelo
Mel
Enlatados: atum em azeite, cavalas, sardinhas; e leguminosas como: feijão (de todos os tipos), grão-de-bico, lentilhas. Além de serem ricas em fibra, são um acompanhamento de elevada qualidade.
Frutos secos (nozes e amêndoas, por exemplo)
Ervas aromáticas/temperos: orégãos, manjericão, curcuma, louro, caril, pimenta preta. É também uma boa altura para fazer uma pequena horta de aromáticas. Vai ter tempo para isso!
Aveia (os flocos finos são, eventualmente mais versáteis: servem tanto para papas como para panquecas, bolachas ou bolos);
Arroz, massas, couscous
Farinha
Fermento seco ou fermento fresco (para os dias de pão e pizza caseira)
Café



CONGELADOS
Peixe (pescada, salmão, bacalhau, polvo)
Legumes congelados (mantêm as propriedades e, ao mesmo tempo, conservam-se melhor): ervilhas, grelos, favas, espinafres, feijão-verde
Frutos congelados (para batidos, gelados…)
Refeições pré-cozinhadas (por exemplo, nuggets com alta percentagem de frango ou douradinhos de peixe)


LACTICÍNIOS E DERIVADOS
Ovos - aproveite a validade alargada para cozinhar pratos salgados e doces
Manteiga
Queijo - curado com maior validade ou queijo flamengo fatiado
Iogurtes naturais e de aromas com sabores diferentes – ninguém aprecia a monotonia
Leite ou bebidas vegetais


CRIANÇAS
Cereais (corn flakes sem açúcar, espelta tufada)
Purés de fruta de diferentes sabores
Papa de cereais/flocos - Nestum mel 0% é a nossa solução de recurso. É uma opção com grande validade e com alguns nutrientes


ANIMAIS
Tem cães, gatos, canários, porquinhos da índia, tartarugas ou peixes?
Não se esqueça dos seus animais de estimação.


OUTROS
Detergentes (louça e limpeza da casa)
Pastilhas para a máquina da louça
Sacos do lixo
Papel vegetal (vai precisar para os bolos e tartes!)/película aderente (caso use).

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É uma fase de tensão para todos, pelo que podemos aceder a algumas vontades menos saudáveis que possam surgir, tentando sempre que sejam coisas feitas por nós, em vez de atacarmos nos produtos processados como chocolates, batatas fritas ou bolachas.


Lembra-se daquele bolo mármore que nunca faz porque o tempo não estica para tudo? Ou das panquecas com que gostaria de começar as suas manhãs? É a altura ideal para isso. Leve os miúdos para a cozinha e, por favor, divirta-se.

No próximo post, vou deixar-lhe algumas receitas doces e salgadas para fazer durante o isolamento (e não só!).
Para já, todos os dias tenho publicado receitas nas stories do meu Instagram: @anachaves.
Se se sentir inspirada/o e as replicar, identifique-me que eu vou adorar ver.

Por fim, uma nota que me parece importante, embora nada tenha que ver com alimentação: quando estamos dentro de casa, a nossa casa é o nosso mundo - e aquilo que deixamos entrar. Tudo ganha uma dimensão avassaladora e até as coisas mais insignificantes tomam conta de nós.

Por favor, procure e acompanhe informação apenas veiculada por canais/plataformas fidedignas. Seja exigente. Não espalhe o pânico, que de nada serve. Proteja-se e proteja os outros. 



Texto escrito em colaboração com a Catarina Trindade – nutricionista 
#stayathomeandcook
#fiqueemcasa

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